O
Guia Cego
Descrita por Ricardo Costa e Ivan Lira.
Baseada no jogo mestrado por Ivan Lira.
Personagens principais da aventura:
Os
Humanos: Arthos Fogo Negro [Torrellan Millithor]; Magnus
de Helm [Marckarius Millithor]; Sigel O'Blound (Limiekki)
[Dariel Millithor]; Danicus Gaundeford e Klerf Maunader. Os
Elfos: Mikhail Velian [Narcélia Millithor]; Kariel
Elkandor [Karelist Millithor]. O Halfling: Bingo Playamundo
[Quertus Millithor]. Participação Especial:
Storm Mão Argêntea [Ki'Willis Millithor].
O
Guia Cego
Dois
Caminhos
Em
meio à escuridão completa e ao silêncio
sepulcral das cavernas do Subterrâneo, a nau voadora
da Comitiva da Fé desviava de gigantescas estalactites,
conduzida habilmente pelo piloto evereskano, o elfo Arnilan
Beldusyr, nos corredores que os conduziam à próxima
parada, uma metrópole chamada Undrek'Thoz, assinalada
no mapa da matrona Ky´Wyllis, líder do agora
desaparecido clã drow dos Millithor. Apenas um dia
havia se passado desde que a Comitiva da Fé deixou
a arruinada cidade drow de Maerymidra. Durante este tempo,
nada fizeram os heróis, além de descansar e
curar as injúrias do corpo e da mente dos acontecimentos
dos últimos dias, quando enfrentaram constante tensão
e desafios. Estavam reunidos em um dos dois compartimentos
dormitórios, o Harpista Klerf, Arthos, Kariel, Sirius
e Mikhail, em um silêncio que já durava horas.
O último, o elfo dourado sacerdote da Deusa da Magia,
estava particularmente cabisbaixo, com os olhos abertos, mas
perdidos em seus pensamentos. Kariel, seu amigo, aproximou-se.
“O que há,
Mikhail?”, perguntou o elfo de cabelos azuis celeste.
“Este lugar me oprime,
Kariel! E não me sinto bem em ter que interpretar uma
sacerdotisa de Lolth, a maldita deusa dos drows, que é
adversária de nosso Pai Corellon. É estranho...
é como se eu o estivesse traindo!”
“Este lugar oprime
a todos. Sinto falta do céu e das árvores, do
vento e do silvo dos pássaros, mas temos a chance de
proteger tudo aquilo que prezamos. Enquanto ao seu papel,
pode lhe ser difícil desempenhar, mas isto será
compensado pela quantidade de vidas que poderemos salvar!”,
disse o arcano, príncipe do pequeno reino de Kand.
“Não sei
nem se consigo garantir nossas vidas! E estar nesta forma
de drow me incomoda muito!”, continuou o clérigo.
“Acho que incomoda
a todos. Os drows são nossos inimigos desde a criação,
antes de nossos Reinos nascerem, mas temos que agir como eles
se desejamos o sucesso da missão!”, disse o mago.
“Bem...”,
entrou na conversa Arthos, que do alto de seu beliche, limpava
as unhas com uma adaga. “Acho que devíamos rever
nossos conceitos sobre os drows. Veja Non... ele ajudou a
mim e a Limiekki a nos libertarmos. Não devem ser de
todo o mal.”
“Conhecemos alguns
drows de boa índole, como Nandro e aquele Drizzt do
Norte. E sabemos que existe Eilistraee, que é uma deusa
drow de boas intenções, mas...”, comentava
Kariel, quando foi interrompido por Arthos.
“Não vamos
comentar sobre deuses, certo?! Para mim eles estão
mais preocupados consigo mesmo do que com as criaturas que
andam sobre Toril!”
“Não diga
isto, Arthos. Se estamos vivos, é por causa dos desígnios
dos deuses.”, comentou Kariel.
“E se morremos também!”,
completou Arthos, em seguida.
“Os deuses já
nos ajudaram tantas vezes! Porque diz isto? Não deveria
blasfemar contra os deuses! Perdeu a sua fé neles?”,
interferiu Mikhail, com vigor.
“Perdi... há
muitos meses atrás!”, o semblante de Arthos tornou-se
pesado e tristonho. “Depois de tantos sacrifícios
que fizemos por eles e pelos Reinos, não nos fizeram
um misero favor!”.
Sirius, que estava mais calado do que todos, resolveu falar.
Estava com a expressão de curiosidade e estranheza.
“Desculpem-me a
intromissão! Não estou com vocês a tanto
tempo e não conheço todas as aventuras que já
passaram, mas você fala como se os deuses lhes devessem
algo! Não consigo entender isto!”, exclamou o
guerreiro.
“É uma longa
história... há alguns meses, houve uma grande
batalha no Monte Águas Profundas, contra o famigerado
deus Bane. Ele estava atrás de um poderoso artefato,
conhecido como Orbe de Orgor, que estava em nossa guarda.
Quase perco minha cabeça por conta daquilo. Para me
salvar, minha esposa acabou se sacrificando. Entregamos o
Orbe na Escada Celestial, lugar onde os deuses descem à
Toril, nas mãos do Deus Guardião Helm e suplicamos
para que os deuses usassem seu poder para trazê-la de
volta, mas ignoraram nossos pedidos.”, contou Arthos,
com dificuldade e tristeza.
“Arthos, mas todos
os dias pessoas fazem sacrifícios nos Reinos. Alguns
têm a sorte de escolher quais. Se estamos aqui é
porque escolhemos nos sacrificar, por um motivo que é
maior do que nossas vidas.”, disse o agente Harpista
Klerf.
“E não sei
se os deuses têm a obrigação de nos salvar.
Nós é que temos que salvar a nós mesmos!”,
falou Sirius.
“Acredito que tudo
faça parte de um plano. Se morremos, se Diana morreu,
era porque havia um determinado papel a ser desempenhado por
ela no destino que lhe foi traçado pelos deuses. Ela
cumpriu a sua missão e talvez seja por isso que não
tenha retornado.”, colocou Kariel.
Arthos parou e refletiu
por alguns instantes.
“Talvez vocês
tenham razão. Não devo guardar tanto rancor,
mas não farei mais sacrifícios pelos Deuses.
Farei por vocês, meus amigos, que foram os únicos
que me apoiaram todo o tempo. Por vocês sempre arriscarei
meu pescoço com prazer”, disse Arthos, fazendo
desaparecer o semblante tristonho que as lembranças
difíceis o traziam. Agora o rosto sério pertencia
a Sirius. O guerreiro tomou fôlego para falar algo que
guardava em seu peito.
“Amigos... estive
pensando nestes dias e ouvindo vocês, especialmente
o que Kariel disse sobre a missão de nossas vidas,
concluí que devo retornar à superfície.
Aqui não é o meu lugar. Estas cavernas, este
silêncio, estas trevas me oprimem de uma maneira que
não imaginava que aconteceria. É terrível
para mim ficar aqui preso nesta caixa de madeira flutuante.
Tenho receio de enlouquecer. Só peço que não
me julguem covarde por isto!”
“Não podemos
julgá-lo. Você é um homem, seus dias são
curtos e rápidos, e não sei quanto tempo ficaremos
neste lugar. Talvez fiquemos muitos anos e não é
justo que os desperdice sofrendo como diz”, disse Kariel,
olhando para o amigo.
“E esta é
uma missão voluntária. Foi nos dado o direito
de voltarmos quando desejássemos. Não se envergonhe
por isto!”, completou Mikhail, o elfo de cabelos dourados,
clérigo de Mystra.
“Pode me levar de
volta com a sua magia, Kariel? Para o Vale das Sombras? De
lá pretendo partir para Fenda dos Anões, reencontrar
Yorek e ir para Cormyr e lutar na guerra, Serei mais útil
por lá!”
“Sim. Isso pode
ser feito.”
“Ótimo! Agradeceria
imensamente. O que preciso fazer?”
“Arrume suas coisas
e despeça-se de seus companheiros. Quando estiver pronto,
avise-me!”, finalizou o mago da Comitiva.
Então o guerreiro
arrumou sua mochila. Seus amigos se despediram com abraços
e apertos de mão. Storm ainda questionou ao grupo se
havia mais alguém que desejaria ir com Sirius, mas
os demais confirmaram o desejo de permanecer para completar
a missão, apesar dos desejos de reencontrar o mundo
que haviam deixado para trás. Arthos e Limiekki eram
os que sentiam mais pesar pela partida do guerreiro, um parceiro
ideal para jogos de dados e carteado, bem como para noites
de bebedeiras. Arnilan Beldusyr manobrou a nau voadora até
uma plataforma rochosa, na qual desceram todos os membros
da Comitiva. À frente, bem próximo a Sirius,
posicionou-se Kariel. O arcano gesticulou e pronunciou estranhas
e sonoras palavras. Surgiu então no espaço,
um disco ovalado de energia brilhante, da altura de uma porta.
“Amigos... desejo-lhes
boa sorte! Aguardarei o retorno de vocês no Vale das
Sombras!”, disse o guerreiro, de frente para os companheiros.
“Boa sorte nos seus
caminhos, Sirius. Se houver tempo, vá à casa
de meu amigo Kelta. Mande-lhe notícias e diga ao meu
filho que estou bem e que ele está sempre em meus pensamentos.”
“Farei isto! Adeus!”
Sirius entrou então
no portal e seu corpo desapareceu dentro da energia brilhante,
que em seguida esmaeceu e sumiu. Voltaram então para
a nau, onde ficaram todos, por algum tempo, sentados nas cadeiras
da cabine. Mikhail lembrou-se de algo e retirou uma pequena
caixinha de madeira negra com ornamentos dourados de uma bolsa
que levava a tiracolo e entregou a Kariel.
“O que é
isto?”, perguntou o mago.
“Dentro desta caixa
existem duas varinhas de madeira negra. Acho que devem ser
mágicas, mas você é mais indicado para
analisá-las!”, respondeu o elfo de Evereska.
Kariel abriu a caixa,
manuseou as varinhas e depois pediu licença a Mikhail,
retirando-se para um local mais isolado da sala. Retirou de
uma bolsa, que carregava sempre consigo, duas pérolas
negras, as quais apertou em uma das mãos. Em seguida,
começou a murmurar e gesticular um encanto particular,
para descobrir do que aqueles objetos eram capazes. Cerca
de cinco minutos depois, o mago elfo retornou e sentou-se
novamente ao lado do amigo.
“Esta varinha possui
um encantamento de cura armazenado nela. E esta outra, armazena
um feitiço de batalha, que invoca uma esfera flamejante
explosiva. Fique com a primeira e eu ficarei com a segunda,
já que estamos familiarizados cada um com um dos tipos
de encantamento.”, disse Kariel, entregando a varinha
de cura para Mikhail, e pondo a outra dentro de sua bolsa.
Bingo aproveitou o momento
de reunião para falar também. Retirou da bolsa
a jóia mística que servia de chave para o portal
destruído na cidade de Maerymidra.
“Pessoal... o que
vamos fazer com isto?”, perguntou o halfling.
“Devemos destruir
esta jóia o quanto antes! Ela não pode cair
em mãos erradas!”, disse Storm.
“Podíamos
jogá-la do barco abaixo. O impacto com as rochas abaixo
de nós deve destruí-la.”, sugeriu
Limiekki.
“Não acho
uma boa opção. Se, por um infortúnio
nosso, a pedra não se partir, poderá ser rastreada
pela sua emanação mágica”, observou
Kariel.
“Eu a destruirei.
Mikhail pode me emprestar seu martelo e posso partí-la
com um golpe.”, colocou Magnus.
“Mas a destruição
da pedra pode liberar uma energia perigosa!”, alertou
Storm, preocupada com a segurança do paladino, pelo
qual nutria sentimentos de amor.
“Não se preocupe,
Storm. Sirius fez o mesmo com a pedra dos Millithor”,
tranqüilizou Magnus.
“É... mas
a explosão o jogou longe!”, recordou Limiekki.
“Mas não
foi nada de mais! Acho que posso fazê-lo! Se me acontecer
algo, acredito que Mikhail poderá me ajudar!”,
confirmou o guerreiro de Helm.
“Bem... está
certo!”, disse Storm, um tanto receosa. “Arnilan...
pare em um platô. Iremos destruir a jóia!”.
O condutor da nau voadora
procurou com o forte feixe de luz que partia do farol na proa
do navio um local adequado. Minutos depois, aproximou a embarcação
de uma maciça laje rochosa. Uma prancha de madeira
foi estendida e Magnus desceu, portando o Destruidor de Tempestades
na mão direita e a jóia mística, do tamanho
de um punho, na esquerda. Seus amigos, do convés, acompanhavam
seus passos. Magnus afastou-se e posicionou-se de costas para
um paredão rochoso. Ergueu o martelo prateado ao ar
com as duas mãos e golpeou. A jóia se partiu
em uma explosão de luminosidade avermelhada e um ruído
abafado. Magnus caiu ao solo, impulsionado pela onda de choque
liberada. Imediatamente, seus amigos se aproximaram. Mikhail
ajoelhou-se perante o guerreiro.
“Magnus!?”
“Estou bem. Foram
apenas alguns arranhões e um zumbido nos ouvidos que
deve passar logo”, disse o paladino, erguendo-se da
laje empoeirada de pedra. Storm o olhava, aliviada.
O grupo retornou a nau
e navegou o ar das imensas e infinitas cavernas do Subterrâneo
por mais algumas horas, seguindo as indicações
dos Millithor. Em um dado momento, Arnilan parou a nau e debateu
longamente com o professor Danicus, enquanto observavam um
mapa.
“O que houve?”,
perguntou Storm, aproximando-se.
“O túnel
pelo qual deveríamos passar está bloqueado por
pedras!”, respondeu Arnilan.
“Houve um desmoronamento,
certamente!”, completou o professor Danicus.
“Não há
outra passagem?”, questionou a Barda do Vale das Sombras.
“Procurei por todo
o paredão rochoso e somente encontrei um pequeno túnel,
estreito demais para passarmos com a nau”, informou
o piloto evereskano.
Storm pensou por alguns
instantes e sugeriu
“Podemos enviar
um grupo por este túnel e ver se existe a possibilidade
de desbloqueá-lo do lado de dentro.”
A idéia de Storm,
rapidamente acatada por todos, era a única alternativa
naquele momento, visto que não havia outros caminhos
a percorrer para se chegar à próxima cidade
do Subterrâneo. A mulher de longos cabelos prateados
conversou com os aventureiros e selecionou um grupo para a
missão exploratória. Minutos depois, Mikhail,
Arthos, Kariel, Limiekki, Magnus e o Harpista Klerf, desciam
da nau com tochas e lanternas nas mãos, em direção
ao estreito túnel que penetrava na rocha.
O Come-Pedras
e o Grimlock
O
caminho apertado e o piso repleto de pedregulhos tornavam
a caminhada penosa e demorada. Estavam há dez minutos
caminhando quando ouviram um ruído, um som gutural
que ecoou nas paredes de pedra.
“Por Mielikki! Que
barulho foi este?!”, perguntou o mateiro Limiekki, com
o rosto espantado.
“Não me parece
coisa boa, mas vamos ter que descobrir”, disse o espadachim
Arthos, que iluminava o local.
“Deixem-me ir à
frente, invisível. Os alertarei, caso haja algum perigo!”,
propôs o mago Kariel.
O arcano élfico
de cabelos azuis celeste, depois da concordância dos
colegas, deslocou-se para frente, até o limite da iluminação
proporcionada pela luz da lanterna segurada por Arthos, e
tocou seu elmo encantado, desaparecendo em seguida. Era, mais
uma vez, o batedor.
O elfo avançava,
seguido de seus companheiros, e a cada avanço, ouvia
o ruído aumentar. Era uma espécie de lamento
bestial e assustador, que colocava os exploradores sob intensa
tensão, sem, no entanto, parar os seus passos. O mago
invisível chegou ao final do corredor, que levava a
uma câmara, a qual não conseguia dimensionar,
pelos menos, não com a fraca luz que vinha da lanterna
de Arthos. Aguardou, então, a chegada dos companheiros
e de uma iluminação mais apropriada.
Os demais aventureiros
chegaram até o final do corredor e com eles a luz,
que preencheu uma pequena parte da galeria rochosa. Era um
gigantesco salão, como muitos no Subterrâneo.
Estavam em uma plataforma e para chegar ao nível do
solo e continuar seria preciso uma pequena escalada de descida.
A luz também lhes revelou algo que os intrigava: a
fonte do misterioso gemido que ouviam. A cerca de trinta metros
estava parada uma estranha criatura, com cerca de cinco metros
de comprimento e três e meio de altura. Sua couraça
era muito semelhante à rocha, tanto na cor como na
textura, tanto que era difícil perceber com clareza
seus contornos. Tinha duas patas dianteiras e não havia
mais membros. Seu corpo se arrastava como o de uma lesma.
A cabeça possuía um único e negro olho
e uma grande boca. Continuava a emitir o ruído que
haviam ouvido, sem sair do lugar ou promover alguma ameaça.
“Pelas barbas de
Elminster!”, exclamou Arthos.
"Que monstro é
aquele?", perguntou Limiekki para os colegas, que olhavam
fixo para a criatura.
"Não sei...
será que ele está ferido?”, respondeu
perguntando Mikhail.
"Vamos chegar mais
perto para ver”, disse Kariel. "Não parece
ser hostil. Vamos descobrir o que há com ele”.
Os aventureiros então
desceram uma pequena parede e aproximaram-se da criatura.
Estavam a cerca de quinze metros dela, quando Limiekki, que
observava ao redor, notou algo entre as rochas.
“Amigos! Vi um vulto
passar nas pedras. Pode ser apenas as sombras provocadas pela
luz da lanterna, mas é melhor ficarmos atentos!”
O mateiro tinha razão
em sua preocupação. Poucos metros depois, saltou
das sombras na frente do grupo uma figura humanóide,
de estatura baixa, larga e encurvada, envolta em um manto
de trapos sujos, que ocultava seu rosto e a maior parte de
seu corpo. Segurava em suas mãos sujas e de pele azulada
um grande machado e, ameaçadoramente, se interpôs
entre a Comitiva da Fé e o monstro, gritando algumas
palavras em um idioma incompreensível.
“Calma!”,
pediu Arthos, levantando os braços, em sinal de paz.
“Não viemos brigar. Me chamo Arthos”, disse
o espadachim, batendo com a mão direita aberta sobre
o peito.
“Iskapoft!”,
respondeu o estranho oculto.
“Espere um instante,
Arthos. Conheço uma magia que me fará compreender
este idioma!”, disse Kariel.
O mago executou o rápido
ritual exigido pelo feitiço e, após os gestos
e as palavras arcanas, falou para o ser com o machado.
“Não viemos
machucá-lo. Quem é você e que criatura
é esta?”
“Meu nome é
Iskapoft. Esse é um come-pedra. Vocês o machucaram?”,
perguntou, apontando para a gigantesca criatura.
“Não. Apenas
seguimos o som e viemos saber o que estava acontecendo”.
“Bom”, disse,
abaixando o velho machado. “Come-pedras não faz
mal a ninguém. Ouvi barulho também, mas barulho
diferente. Não era gemido de come-pedras!”.
Kariel voltou-se para
os seus colegas e pôs-se a traduzir a conversa. Em um
dado momento, o humanóide envolto em trapos interveio,
usando sua versão inculta do idioma mais comum na superfície.
“Iskapoft entende
fala de estranhos!”
“Entende!?”,
espantou-se Arthos. “Que criatura é você?
Um tipo de anão ou o quê?”
“Iskapoft não
sabe o que ser anão. Alguns povos chamam nós
de grimlock.”, disse o esfarrapado, que estranhamente
ainda ocultava o rosto e jamais fitava seus interlocutores.
“Como aprendeu nosso
idioma?”, perguntou Mikhail.
“Iskapoft já
encontrou outros estranhos antes!”, respondeu o grimlock.
“E o seu povo? Onde
está?”, questionou Limiekki.
“Iskapoft não
sabe. Não consegue se lembrar. Iskapoft está
sozinho aqui. Um dia ouvi barulho e apareci aqui!”
“Pode nos dizer
se esta criatura aí é hostil?”, quis saber
Magnus.
“Bicho come-pedras
não mau. Bicho come-pedras só briga se for atacado.
Come-pedras ferido.”
“Você consegue
se comunicar com este come-pedra?”, perguntou Mikhail.
“Se souber, pergunte-lhe o que está acontecendo.
Talvez possamos ajudar!”.
O grimlock encaminhou-se
até a imensa cabeça da criatura do subterrâneo
e proferiu algumas palavras na estranha linguagem do subterrâneo,
sendo respondido com a uma voz gutural e arrastada. Iskapoft,
em seguida, chamou os membros da Comitiva para perto. Ao chegarem,
os aventureiros puderam perceber um grande rasgo do dorso
do ser gigantesco, de onde vazava um sangue esverdeado e ralo.
“Come pedras está
morrendo! Disse que criaturas voadoras o atacaram.”,
resumiu Iskapoft o diálogo.
“Nosso amigo é
um curandeiro”, falou Arthos, apontando para Mikhail.
“Ele pode fechar a ferida usando encantos! Peça
para que o deixe aproximar-se!”.
Iskapoft então
foi ao come-pedras e pediu-lhe a permissão. Em seguida,
gesticulou, chamando Mikhail. O elfo de cabelos dourados aproximou-se
do monstro e tocou-lhe suavemente as mãos, enquanto
recitava uma prece à deusa Mystra. Em segundos, a região
do ferimento modificou sua coloração, milagrosamente
fechou-se por completo. A cor do come-pedras, de amarelo-terra,
tornou-se amarronzada como as das grandes rochas da galeria
cavernosa. Em seguida, a criatura falou algo, em sua voz ecoante.
“O come-pedras está
agradecendo vocês. Não sente mais dor!”,
traduziu Iskapoft.
“Ficamos felizes
com isto! Também precisamos de ajuda. Existe um túnel
pelo qual temos que passar, que foi bloqueado por um desabamento.
Ele tem cerca de três vezes a altura do come-pedras
em largura e altura. Por favor, Iskapoft, pergunte-lhe se
pode remover as pedras para que possamos continuar nossa jornada.”,
pediu Kariel.
Iskapoft conversou mais
uma vez com o monstro e transmitiu a resposta:
“Come pedras disse
que precisa da ajuda de outros come-pedras! Pediu para seguí-lo,
mas para tomarem cuidado. Foi neste caminho que foi ferido
por criaturas voadoras!”.
“Diga-lhe que seremos
sua escolta!”, falou Magnus, paladino de Helm.
O come-pedras rapidamente concordou e todos seguiram numa
direção das cavernas que levava ao lar de outros
come-pedras.
Bestas Voadoras
E
assim seguiram a Comitiva, o misterioso grimlock e a gigantesca
criatura que, apesar de enorme e pesada, se locomovia com
desenvoltura, mesmo pelos terrenos mais irregulares. Os heróis
avançavam com cuidado e vez por outra, lançavam
feixes de luz para o alto, verificando possíveis movimentos
hostis. Arthos, que ia mais avançado, acompanhado de
Kariel e do jovem Harpista Klerf, conversava com Iskapoft.
“Faz muito tempo
que você está aqui?”, perguntou o espadachim
da Comitiva.
“Tempo?... Não
sei dizer o que é tempo... e vocês? De onde vem?”.
“Viemos da superfície.
Um lugar acima das rochas!”, explicou Klerf.
“Mas depois de rocha
tem mais rochas!”, espantou-se Iskapoft.
“Não... existe
um local onde elas terminam e não há mais nada
sobre nossas cabeças. Um túnel leva até
lá.”, tentou explicar Arthos.
“Iskapoft não
entender!”, disse o aliado que tinha o hábito
de se referir em terceira pessoa.
“É um lugar
muito distante!”, resumiu Kariel, que não via
muito futuro naquela conversa.
“Hei... podíamos
levá-lo conosco! Você está aqui perdido
e sozinho. Podemos tentar encontrar seu povo!”, sugeriu
Arthos.
“Porquê vocês
quer ajudar Iskapoft? Todos que Iskapoft conhece quer apenas
matar para viver! Eu sentir cheiro de carne saborosa de vocês.
Vocês não tem medo?”
“Você está
nos ajudando e se podemos ajudá-lo, não vejo
nada de errado em fazê-lo! E acho que não conseguiria
nos fazer mal.”
“Eu ficar feliz
em ir. Não farei mal. Iskapoft não mata para
comer. Iskapoft vive de restos de outros bichos!”
Os aventureiros cruzaram
a galeria extensa e entraram em um pequeno túnel, escavado
anteriormente pelo come-pedras. Quando já podiam visualizar
a entrada de outra câmara, a criatura de aparência
rochosa falou algo, que o grimlock apressou-se em traduzir.
“Come-pedras disse
que foi nesse lugar que foi atacado por seres voadores. Disse
que tem assim destes bichos!”, disse exibindo os dez
dedos imundos da mão. “Temos que ter cuidado!”.
Deixaram o túnel,
mais atentos do que antes, e entraram em outra imensa galeria.
Era como se estivessem em um vale, ladeado por altos paredões
rochosos. Mikhail resolveu proferir alguns encantos. Tomou
quatro pequenas pedras no chão e sobre elas recitou
uma prece. Os pedriscos passaram a emitir uma luz forte, como
a de uma tocha. Em seguida o clérigo os distribuiu
entre os membros do grupo, que penduraram como puderam em
suas roupas. Sua intenção era liberar as mãos
dos companheiros para um provável combate.
A providência de
Mikhail mostrou-se útil, minutos depois. Ouviu-se o
bater de asas e logo um vulto alado passou voando pelas cabeças
dos heróis, deslocando ar e poeira. Uma criatura desceu
em vôo rasante sobre Arthos, para atacá-lo com
suas garras afiadas. Era um monstro do Subterrâneo já
familiar à Comitiva. Um grande ser humanóide,
de cor púrpura, com asas semelhantes às de um
morcego, que não possuía boca, mas uma abertura
no ventre, de onde brotavam tentáculos rosados. Haviam
enfrentado estes monstros pouco antes de chegarem à
cidade de Maerimydra.
Arthos agiu rápido
e, em um reflexo, ergueu seu sabre, talhando o corpo do agressor.
Iskapoft foi o próximo a ser atacado. O grimlock conseguiu
evitar o golpe, agachando-se rapidamente. E seguida retirou
o rústico machado, esperando para o revide. O alcance
da luz que partia das pedras encantadas por Mikhail já
permitia enxergar os adversários que pairavam acima
das cabeças dos heróis. Eram cerca de dez. Kariel
foi o próximo a agir. O mago conjurou cinco pequenas
esferas de energia brilhante, que partiram de suas mãos,
indo explodir no corpo do monstro atingido por Arthos que,
sentindo o golpe, perdeu momentaneamente a capacidade de voar,
sendo obrigado a realizar um pouso forçado. O espadachim
aproveitou a oportunidade e aproximou-se do oponente para
enfrentá-lo. Mikhail apontou seu martelo Destruidor
de Tempestades para uma das criaturas que voavam. Um raio
de brilho fulgurante deixou a arma encantada e preencheu a
caverna, atingindo o inimigo e queimando a sua pele. Um outro
dos monstros púrpuras desceu do alto e engajou-se em
combate contra o paladino Magnus. Um também se aproximou
do come-pedras, que, mais velozmente do que se podia imaginar,
ergueu uma de suas grandes patas e acertou um golpe potente,
fazendo o inimigo ser arremessado por alguns metros.
Aos poucos, os monstros
púrpuras foram se abatendo do alto sobre os heróis,
para combatê-los corpo-a-corpo, formando a configuração
da batalha. Em poucos minutos, Arthos, Kariel, Klerf, Mikhail
e Limiekki lutavam cada um contra duas criaturas e Magnus,
Iskapoft e o come-pedras enfrentavam um oponente cada.
O combate seguia-se e
como uma mosca incômoda, o monstro arremessado pelo
come-pedras, retornou voando até o imenso ser rochoso.
Investiu com suas garras três vezes contra a espessa
pele pedregosa, mas não conseguiu rasgá-la.
Experimentou a criatura gigantesca um novo contra-ataque,
desta vez fatal, com a imensa pata. Arthos estava sendo flanqueado,
mas escapava das investidas graças a sua agilidade
acrobática. O espadachim, com o seu sabre encantado,
reduziu o número de inimigos: acertou uma estocada
fatal no peito do monstro que já havia sido ferido
por ele e pelo mago Kariel, fazendo-o tombar . Mikhail não
conseguiu o mesmo sucesso que o ruivo amigo: tentou um golpe
com o seu martelo, mas o inimigo horrendo escapou-lhe. Um
de seus oponentes aproveitou-se da falha e prendeu o clérigo
de Mystra, imobilizando-o com seus braços e com os
tentáculos que saíam de seu ventre. Klerf escapou
das garras de um dos monstros abaixando-se, em seguida retribuiu
com cortes de sua espada.
Magnus havia sido atingido,
mas, por enquanto, os golpes que havia recebido eram suportáveis.
Em revide, brandiu sua Hadryllis e em um golpe poderoso decapitou
o monstro púrpura. O jovem paladino, após eliminar
seu adversário, percebeu o apuro em que Mikhail se
encontrava e partiu para ajudar o elfo de cabelos dourados.
O mago Kariel resolveu que era o momento de conjurar uma magia
do seu repertório, poderosa o suficiente para atingir,
ao mesmo tempo, todos os oponentes da Comitiva. Deu alguns
passos para trás, evitando o combate e, após
rápidos gestos e palavras arcanas, uma rama elétrica
surgiu e saltou das suas mãos, atingindo o inimigo
a sua frente e depois ricocheteando para o outro monstro mais
próximo e para o seguinte, seguindo este padrão,
até que todos os inimigos em combate sofressem o efeito
da descarga. Alguns não suportaram e caíram
mortos, notadamente o que lutava com Arthos e um que batalhava
com Iskapoft. A dor provocada pelo efeito destrutivo do feitiço
invocado pelo mago afrouxou os braços e tentáculos
que prendiam Mikhail e ele então se libertou. Magnus,
que já estava próximo ao companheiro sacerdote,
correu e investiu contra a criatura, em um empurrão
que a desequilibrou. Em seguida, o paladino girou sua espada
sagrada no ar e outra cabeça caiu ao chão.
Agora somente haviam cinco
inimigos no combate: dois estavam trocando golpes contra Kariel
e dois lutavam contra Limiekki. Contudo, aquela situação
não perduraria por muito tempo. O mateiro, com sua
adaga e machado, era um guerreiro feroz e rápido. Ainda
que tivesse recebido alguns cortes dos adversários,
conseguiu derrubá-los, com um corte de machado no abdômen
e um talho profundo no pescoço. Klerf, após
trocar vários golpes com uma das criaturas, conseguiu
feri-la mortalmente no tórax, aproveitou-se do estado
fragilizado dele e o executou atravessando sua espada no crânio
da criatura. Kariel, cuja poder não se refletia no
manuseio da lâmina mas das energias místicas,
não era tão rápido, mas seu bom treinamento
de combate o fazia um guerreiro competente. Eliminou um dos
monstros púrpuras, que já estava bastante ferido,
devido à destruidora magia de que foi vítima.
O outro, ao ver todos os seus companheiros derrotados, foi
tomado de medo e o seu instinto de sobrevivência o aconselhou
que era melhor fugir daqueles estranhos, mais poderosos do
que podiam imaginar. Bateu suas asas potentes e começou
a alçar vôo. Porém, antes que se afastasse,
o elfo mago ergueu sua lâmina prateada em um golpe alto,
e conseguiu abrir um rasgo no ventre do monstro, que interrompeu
definitivamente sua fuga, caindo morto. Uma das criaturas,
que estava apenas observando o embate, alçou vôo
e conseguiu escapar com vida.
“Acho que se outros
destes estiverem observando não irão nos incomodar
por algum tempo!”, comentou Kariel, embainhando sua
espada.
“Todos estão
bem?”, perguntou Mikhail.
“Só tenho
alguns arranhões!”, respondeu Limiekki. “Nada
que valha a pena gastar seus encantos!”, completou.
“Esplêndido!
É sempre incrível vê-los em ação!”,
disse Klerf, olhando para a quantidade de monstros mortos
ao chão. Foi quando o Harpista viu que Iskapoft estava
ajoelhado à frente de um dos inimigos, e cortava-lhe
com uma faca de pedra lascada, retirando tiras de carne, que
guardava em um saco imundo e malcheiroso de couro, que havia
retirado do seu manto esfarrapado.
“Por Helm! O que
está fazendo?”, perguntou o paladino Magnus.
“Iskapoft guarda
comida! Vocês querer?”, disse o grimlock, exibindo
um pedaço de carne ensangüentada para o asco dos
mais civilizados membros da Comitiva.
“Não... obrigado!
Ele não faz parte de nossa dieta!”, agradeceu
Arthos, com uma feição um tanto distorcida.
Os aventureiros refizeram
seu ordenamento e voltaram a percorrer os túneis, em
fila e atentos a possibilidade de confrontarem mais inimigos.
O come-pedras os guiou pelo vale estreitos entre paredões
e por um túnel sinuoso durante uma hora. Kariel chegou
a se comunicar com Storm, utilizando-se de sua capacidade
de Escolhido de Mystra. Queria tranqüilizar a barda quanto
ao paradeiro e a situação do grupo. Por fim,
chegaram a uma câmara, de onde se ouviam ruídos,
semelhantes a pedras sendo arrastadas. Havia um desagradável
o dor ácido no ar.
“Chegamos! Este
ser lar de come-pedras!”, anunciou Iskapoft!
Assim que aquela Comitiva
subiu uma elevação feita com pedregulhos, a
luz que carregavam foi capaz de revelar um salão amplo,
de terreno arenoso, onde se locomoviam lentamente cerca de
duas dezenas de come-pedras, alguns até maiores que
aquele que acompanhava os heróis. As paredes do salão
também chamavam a atenção: eram preenchidas
com veios de um mineral cristalino semi-transparente, que
refletia a luminosidade que recebia, executando um belo efeito
de cores e ampliando a iluminação trazida pelos
aventureiros. Arthos viu um destes cristais quebrados perto
dos seus pés e abaixou-se para pegá-lo. Pensava
o espadachim se a pedra teria algum valor, o que não
conseguiu avaliar. Isto, porém, não impediu
que guardasse algumas no bolso, para uma avaliação
posterior mais acurada e, quem sabe, algum lucro vindouro.
Alguns de seus amigos fizeram o mesmo, com menores quantidades,
por motivos diferentes, como curiosidade e admiração
pela beleza do cristal.
“Isto ser comida
preferida dos come-pedras!”, observou Iskapoft.
“Hum... espero que
não tenham se chateado por termos guardado algumas
delas!”, comentou Kariel.
“Come-pedras não
se importar se pegar quantidade pequena!”, disse o grimlock,
o que fez, finalmente, que Arthos parasse de procurar pedras
no chão para encher os bolsos já superlotados.
O come-pedras que acompanhava
a Comitiva aproximou-se de seus pares e com eles conversou
durante alguns minutos. Em seguida, foi até Iskapoft,
que traduziu a mensagem, usando seu conhecimento precário
do idioma da superfície.
“Muitos come-pedras
vai ajudar a abrir túnel. Eles contentes por terem
derrotado bestas voadoras! Pediram para indicar o caminho!”
E assim a Comitiva retornou
pelo caminho por onde veio, até o estreito corredor
pelo qual haviam penetrado na câmara onde encontraram
Iskapoft e o come-pedras, seguido por cerca de doze das imensas
criaturas. Os seres de rocha e carne tomaram a dianteira neste
último trecho. Seus corpos produziam uma espécie
de ácido que corroia a pedra, alargando o outrora estreito
caminho. Em breve, estavam do lado de fora novamente.
Os membros da Comitiva
embarcaram mais uma vez na nau voadora e indicaram, com a
luz do farol dianteiro, o túnel soterrado. Iskapoft
também subiu ao convés, um tanto inseguro em
estar naquele estranho veículo, com formato de peixe.
Os come-pedras moveram-se até os gigantescos pedregulhos.
Aos poucos, no tempo de trinta minutos, as pedras foram dissolvidas
e o túnel pôde ser visto novamente, com espaço
suficientemente grande para a passagem do veículo mágico
da Comitiva.
“Não sei
o nome do come-pedras que nos ajudou, mas agradeça-o
por nós, Iskapoft!”, pediu Mikhail. “A
abertura que fizeram nas pedras é suficiente para prosseguirmos!”
“Eles não
se diferenciar por nomes, mas eu agradecer!”, disse
o encapuzado.
O grimlock bradou algo
e foi respondido. Em seguida, os come-pedras deixaram o túnel
livre, retornando ao corredor em direção à
câmara cavernosa que lhes servia de lar.
“E então,
Iskapoft? Segue mesmo conosco, para ver se encontramos alguém
de seu povo?”, perguntou Arthos, que estava rodeado
por todos os seus companheiros de viagem, a exceção
de Arnilan, o piloto, Storm e o professor Danicus.
“Vocês ir
pra onde?”, perguntou o grimlock.
“Iremos por este
túnel adentro.”, respondeu Kariel.
“Humm... túnel
leva à cidade de Undrek’Thoz. Lugar perigoso!
Criaturas más, bichos grandes, armas enormes”,
disse Iskapoft, para a surpresa dos aventureiros.
“Então conhece
Undrek’Thoz?”, perguntou Limiekki. “O que
você viu? Que tipo de criaturas existe por lá!
drows?”.
“Há drows
lá. E criaturas peludas e grandes e outras diferentes,
mas Iskapoft não pode ver!”.
“E esse capuz? Temos
que ver como você é!”, pediu Bingo, que
estava achando levar aquele ser malcheiroso uma idéia
não tão agradável.
O grimlock então
retirou o manto de trapos que o envolvia. O pequeno halfling
curioso deu um pulo para trás. Iskapoft tinha uma aparência
horrível: não possuía olhos, tinha um
nariz muito largo e uma boca mais larga ainda, repleta de
dentes pequenos e pontiagudos como pregos, alguns podres e
escuros, que exalava um hálito fétido. Na sua
cabeça achatada e grande, de pele azul clara, poucos
e engordurados cabelos. Vestia uma armadura feita com o couro
de algum animal desconhecido.
“Agora sei porque
ele usa capuz!”, falou Bingo, bem baixinho, consigo
mesmo.
“Já esteve
em outras cidades do Subterrâneo, Iskapoft?”,
quis saber Arthos.
“Memórias
de Iskapoft confusas antes de Undrek’Thoz. Só
lembrar que estava dormindo e ouvir barulho de metal fazendo
‘Dooommm’. Depois apareci na cidade”.
“Bem... antes de
tudo, temos que saber a opinião de nossa líder
nesta missão. Vamos falar com Storm e saber o que ela
pensa a respeito de levarmos você conosco. Ela tem a
palavra final sobre o assunto. Por favor, aguarde-nos, Iskapoft!”,
pediu Kariel, enquanto chamava os outros para irem com ele
até a cabine, onde estavam a Barda do Vale das Sombras,
o professor Danicus e o piloto Arnilan.
Os aventureiros expuseram
a Storm todos os acontecimentos passados na caverna. Queriam
retribuir a ajuda do grimlock, que vivia sozinho e em condições
bastante difíceis. Contaram sobre a recente descoberta
de que Iskapoft já estivera em Undrek’Thoz e
poderia fornecer algum tipo de informação. A
mulher de cabelos longos e prateados perguntou a opinião
dos aventureiros, especialmente à de Magnus, paladino
que podia sentir o mal extremo no coração dos
seres. Magnus informou que nada sentia de ruim em Iskapoft.
Nenhum argumento desfavorável, além de alguns
comentários cômicos sobre o cheiro e a feiúra
do recém chegado, feitos por Bingo e Limiekki, foi
levantado. E então, a mulher decidiu:
“Está bem!
Ele poderá ir conosco! Temos apenas que refrear seu
instinto carnívoro. Digam-lhe que poderá vir.
Arnilan... pode prosseguir rumo a Undrek’Thoz!”,
comandou a heroína.
“Sim, senhora!”,
disse o piloto, movendo a nave para frente suavemente.
E
então a nau encantada de madeira, ferro e lona, no
formato de um peixe, navegou o ar para desaparecer no túnel
negro, desbloqueado pelos gigantescos come-pedras, levando
a bordo um novo e estranho passageiro, na direção
da próxima e arriscada missão nos confins do
Subterrâneo.
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